- Na sexta-feira 19 de junho, começou o Ano Sacerdotal. Quais expectativas tem o senhor em relação a este acontecimento, como representante de uma Comunidade Presbiteral que está presente em todo o mundo?
- Monsenhor Wolf: Num primeiro momento – assim como aconteceu com o ano paulino – fiquei surpreso que o Papa Bento, em março deste ano, anunciasse um Ano Sacerdotal, uma inspiração do Espírito Santo. Em primeiro lugar, espero que este seja um ano que ajude a muitos sacerdotes. Desejo que capte a muitos irmãos de mina comunidade e de outros institutos sacerdotais e movimentos da Igreja e que, tal como aconteceu no ano paulino, desperte criatividade e vida. Resumindo: espero que, para muitos membros da Igreja, o presbiterado seja totalmente compreendido no sentido do Concílio Vaticano II, como serviço ao sacerdócio comum de todos os batizados e que, cada vez mais, possa ser experimentado assim.
-- O Cardeal Cláudio Hummes escreveu una extensa carta aos presbíteros, por ocasião deste Ano Sacerdotal. O que mais lhe chamou a atenção nesta carta pessoalmente?
--Monsenhor Wolf: Nesta carta, chamou-me a atenção o fato de que se fala de um “ano positivo”, no qual a Igreja quer mostrar que está orgulhosa de seus presbíteros e agradecida pelo serviço que os mesmos prestam. Certamente também se fala dos erros dos padres – até a culpa punível – mas isso não supera o grande compromisso e testemunhos positivos da vida de imensa maioria dos presbíteros.
-- O Cardeal Hummes convidou que se celebre início do Ano Sacerdotal em todos os lugares. Como foi a abertura deste Ano em Schoenstatt?
--Monsenhor Wolf: Em Schoenstatt fizemos a abertura do Ano Sacerdotal na Missa da Aliança, na véspera da Festa do Sagrado Coração de Jesus. Quem presidiu a Eucaristia foi o Padre Franz Brügger, Superior Provincial dos Padres de Schoenstatt na Alemanha e presidente da Presidência Nacional. Nesta ocasião, convidou a Família de Schoenstatt a participar da celebração do Ano Sacerdotal.
-- Nesta carta, o Cardeal também convida a apresentar presbíteros exemplares das Paróquias e Comunidades. Quais personalidades presbiterais o senhor recorda, espontaneamente? O que estes presbíteros poderiam indicar aos presbíteros e a toda a Igreja? Que tipo de presbítero é um exemplo para o senhor?
--Monsenhor Wolf: Estou convencido de que todas as Dioceses poderão destacar, até em sua história recente, presbíteros valiosos e também que se sobressaíram. Penso que valeria à pena conservar a memória de tais presbíteros exemplares e, por exemplo, apresentar cada mês um desses modelos nos Boletins Diocesanos. Espontaneamente, me vem à mente o testemunho de vida do Padre José Kentenich, fundador da Obra de Schoenstatt e de minha Comunidade Presbiteral (Instituto Secular dos Sacerdotes Diocesanos de Schoenstatt). Suas expressões e seu serviço sacerdotal me mostram muitos aspectos do ser presbítero e este é o modelo para meu ministério. Penso também no Beato Carlos Leisner, que foi ordenado presbítero no Campo de Concentração de Dachau. Sua luta diante da decisão de abraçar a vocação presbiteral é um exemplo para mim e pode ser uma grande ajuda especialmente para os jovens e os seminaristas, no que toca à vocação.
-- O senhor editou um livro para o Ano Sacerdotal. Do que trata? O que lhe impulsionou fazer isso justo neste tempo?
--Monsenhor Wolf: Antes de conhecer a intenção do Santo Padre de convocar este Ano Sacerdotal, eu havia começado – junto com alguns co-irmãos de meu Instituto – a recopilar textos com testemunhos do Nosso Fundador sobre o presbiterado, motivado pelo centenário da Ordenação Presbiteral do Padre Kentenich (8 de julho de 1910). São textos de um grande educador de presbíteros. Na década de 30, 1/3 do clero alemão participou dos retiros dados pelo Pe. Kentenich. Para a seleção dos textos, levei em consideração sobretudo irmãos que buscam material para refletir pessoalmente sobre seu ministério presbiteral. Foi uma feliz disposição da Divina Providência que este livro já estivesse planejado e que esteja disp
onível agora, no começo do Ano Sacerdotal. O livro se intitula: "Chamado, consagrado, enviado" e quem o publicou foi a Editorial Schoenstatt.
-- Quais são os temas mais importantes mencionados no Livro, sobretudo levando em consideração o Ano Sacerdotal?
--Monsenhor Wolf: neste livro encontram-se textos sobre as expectativas desafiadoras e controvertidas que existem sobre o presbítero, explicações sobre a questão da compreensão presbiteral de si mesmo, como também sobre a vida espiritual e estilo de vida dos presbíteros. Menciono rapidamente alguns títulos: Expectativas sobre o presbítero. Participação no sacerdócio de Cristo. Uma missão profundamente profética. Orientado pelo Bom Pastor. O padre e a Virgem Maria. O presbítero não caminha sozinho. Disponível para as novas vocações.
-- Em quais idiomas sairá este livro?
--Monsenhor Wolf: A partir dos primeiros ecos sobre o livro dentro do Movimento de Schoenstatt, sei – até agora – das seguintes iniciativas: no Chile, os Padres de Schoenstatt começaram a tradução ao espanhol. No Brasil, as Irmãs de Maria planejam a tradução ao português. Nos estados Unidos está-se fazendo a versão inglesa e no Burundi começou a tradução em Francês.
-- Como será o Ano Sacerdotal nas comunidades presbiterais de Schoenstatt?
--Monsenhor Wolf: As comunidades presbiterais schoenstattianas já tinham planejado, antes do anúncio de Roma, celebrar o próximo ano à luz do centenário da ordenação presbiteral de seu Fundador. Temos a intenção de aproveitar este ano para refletir sobre o presbiterado e sobre sua missão original. Com vistas a este jubileu, planejou-se duas outras publicações: a primeira é um livro de testemunhos sobre o presbítero José Kentenich e a segunda é uma publicação científica, com reflexões sobre o ministério presbiteral. Em nossas comunidades presbiterais, os retiros deste ano estão previstos como uma reflexão sobre a graça e o desafio da consagração presbiteral. Esta recopilação de textos quer ser uma ajuda à meditação pessoal, mas também quer servir como temas de discussão nos grupos e Cursos das Comunidades. Um grupo de planificação está trabalhando para possibilitar que muitos de nossos irmãos presbíteros do mundo todo participem no grande encontro de encerramento do Ano Sacerdotal, com o Santo Padre, na Praça de São Pedro. Além disso, em um trabalho conjunto com os presbíteros do Movimento do Focolari, tomamos a iniciativa de organizar um grande congresso em Roma que inicie um intercâmbio espiritual internacional entre os presbíteros. Em Schoenstatt celebraremos o encerramento do Ano Sacerdotal no contexto do centenário da ordenação presbiteral do nosso Fundador. Celebraremos seu centenário na Catedral de Limburgo com o Bispo Diocesano, Dom Tebartz van Elst, e estamos convidados para a Casa das Missões, dos Padres Pallottinos, onde o Padre Kentenich foi ordenado, no dia 8 de julho de 1910.
-- O que o senhor acredita que seja a meta central para a figura do presbítero nestes tempos?
--Monsenhor Wolf: Penso que seja importante que os presbíteros, com seu serviço e seu ser, sejam testemunhas de Deus e lhe abram os horizontes. Sua tarefa de ser construtores de pontes ganha ainda mais atualidade no mundo secularizado onde se perde de vista a realidade sobrenatural.
-- Qual seria a mensagem central do Padre Kentenich para os presbíteros de hoje, segundo seu parecer?
--Monsenhor Wolf: Em seu ser presbítero o Padre Kentenich se orientou marcadamente por São Paulo, convidando com freqüência seus irmãos presbíteros a estar na Escola de São Paulo. Sua auto-consciência como presbítero mostra características paulinas e proféticas marcantes. Ele entendeu o presbítero não em primeiro lugar – ou exclusivamente – a partir de sua destacada função litúrgica, mas como alguém impulsionado – como São Paulo – a ser portador de vida como um pai ou uma mãe, na fundação de comunidades e no suscitar nova vida cristã. Para o Pe. Kentenich, o presbítero está chamado a servir de forma abnegada à vocação ao sacerdócio comum de todos os batizados e à vocação especial de cada pessoa. Na minha opinião, o Pe. Kentenich nos ajuda na compreensão do Ano Sacerdotal como uma continuação do Ano Paulino, vivendo este enlace com fruto. Este tempo é parecido – em muitos aspectos – com o tempo de São Paulo; precisamos de uma imagem presbiteral acentuadamente paulina, na qual transpareçam as características missionárias e proféticas.
-- O senhor conheceu pessoalmente ao Padre Kentenich. Qual é a sua recordação mais marcante dele como presbítero?
--Monsenhor Wolf: Você me pergunta por minhas vivências pessoais com o Pe. Kentenich. Chama a minha atenção o fato de que eu nunca estive com ele em uma celebração eucarística, mas unicamente lembro dele em um encontro de grupo ou em uma conferência dada a um grande círculo. Contudo, sempre foi claro para mim: encontrei um presbítero convencido que vive para Deus e seu mundo. Sendo estudante, chamou-me a atenção uma frase nos escritos do Padre Kentenich: a “realidade do sobrenatural”. Ele foi, para mim, de forma crescente, um testemunho crível da realidade da fé. Seguiu seu caminho com o Deus da Vida de um modo realista, sóbrio, com fé na Providência e isso durante toda a sua vida. A forma como enfrentou os desafios de sua vida até o Campo de Concentração e o Exílio, foi para mim uma confirmação de sua credibilidade. A vinculação interior com esta testemunha da fé, me ajuda a crer em Deus e animar, assim, às pessoas. Pode-se dizer algo mais bonito sobre um presbítero?